Continuando com as informações mais técnicas, desta vez, abordaremos a FC (frequência cardíaca). Só que, para um assunto tão mais profundo, importante e técnico, contaremos com a ajuda de um profissional.
No caso, Dr. Marcos Barros, especializado em Cardiologia e Clínica Médica, de Salvador/BA, que além de profissional da área, corre no nosso grupo, e temos o prazer de tê-lo em nosso convívio.
Vamos à FC, então:
"Para a Cardiologia, a frequencia cardíaca (FC) é um marcador linear do
consumo de oxigênio (O²) do músculo cardíaco. Ou seja, quanto maior a FC, maior
o consumo de O² pelo coração. Assim, podemos estimar o grau de sobrecarga e
avaliar doenças que estariam relacionadas ou apareceriam com o aumento da
necessidade de O² pelo coração. Para a Medicina do Esporte, a FC tem
interpretação muito mais ampla: relaciona-se ao consumo de oxigênio (O²) do
organismo, ou seja, leva-se também em conta a massa muscular periférica.
Na fisiologia celular muscular, a energia é produzida por metabolismo que
necessita do uso de O² (aeróbico) e, a partir de determinado grau de esforço,
sem dependência de O² (anaeróbico), com produção de lactato. Esse ácido lático
é tamponado e lavado do organismo por mecanismos específicos.
Na prática clínica, estabelece-se a FC relacionada ao fim do metabolismo
aeróbico exclusivo (Limiar 1: início do metabolismo misto, aeróbico e
anaeróbico, com produção de lactato) e a FC relacionada à exaustão dos sistemas
tampões (Limiar 2: a produção de lactato supera a sua lavagem). Esse segundo
ponto geralmente chamamos de FC máxima porque geralmente está relacionado à
fadiga e iminente interrupção do esforço, manifestações do acúmulo indevido do
lactato e perda de equilíbrio do sistema metabólico. A melhor
forma de medir tais valores da FC é através do teste ergoexpirométrico.
Entretanto, há fórmulas matemáticas que pretendem aproximar-se, com maior ou
menor precisão, desses valores considerando idade e gênero do indivíduo.
Então, na avaliação cardiológica, avaliamos a saúde em repouso e em
resposta ao esforço até a FC máxima. Isso não quer dizer que passar
da FC significa risco imediato ao coração...
Bem, qual é o risco de passar da FC máxima? para o coração sadio,
desprezível. O risco cardíaco é proporcional ao grau de esforço, contudo, no
coração sadio, avaliado e "conhecido". Pondera-se apenas que a
avaliação cardiológica é feita até a FC considerada e infere-se que o coração
aguentaria o esforço que o levar a ultrapassá-la. Por que? Porque não se deve
ultrapassá-la por muito tempo, dados outros riscos.
O trabalho acima da FC máxima traz desequilíbrio metabólico e transtornos
lesivos (acidose, acúmulo de escórias celulares, etc.) a todo o organismo.
Detalhes:
1. o sistema muscular é mais fragil que o sistema cardiovascular -
sofre primeiro, fadiga primeiro, lesiona primeiro (não mata, contudo
tem-se muito mais lesões osteomusculares que cardíacas no esporte);
2. o
rendimento do atleta geralmente é muito mais relacionado ao condicionamento
periférico que cardíaco. Quando um esportista apresentar condição cardíaca
limitante, essa preponderará e toda a sua programação deve adequar-se às
orientações do Cardiologista.
Assim, podemos descrever no dia-a-dia:
A frequencia cardíaca (FC) é parâmetro cardiológico fácil, barato e
confiável do grau de esforço e sobrecarga que é imposta ao organismo. Os
limiares (L1 e L2) são parâmetros metabólicos com relação direta com a FC,
utilizados para a programação física. A FC máxima nos traz um parâmetro de
frágil ponto de equilíbrio metabólico, que pode e deve ser utilizada para
melhorar o condicionamento, sob supervisão e orientação adequadas.
De forma geral, a FC deve ser utilizada como indicador de esforço cardíaco
e muscular, podendo ser inclusive utilizado como proteção para lesões
ortopédicas em exercícios de carga não mensurável (corrida, p.ex.).
A utilização da FC é
importante para todas as fases do treinamento. Não deve ser subestimado o valor
da FC no treino regenerativo, por exemplo, às custas da FC nos treinos de
condicionamento em tiros. Em bom português, aceite que sua FC vai ultrapassar a
FC máxima nos treinos intervalados e preste muita atenção na FC estabelecida
para os treinos regenerativos. Seu treinador agradece a confiança."
Devo confessar que não utilizava a FC como um parâmetro quando iniciei minhas atividades. Hoje, sou mais atento a ela, e, com a melhora que pretendo fazer no meu pace, ela deve se tornar uma aliada ainda mais importante.
Quando falamos de treinar com orientação profissional, uma nutrição adequada, exames em dia, é justamente para podermos evoluir com segurança e diminuirmos a possibilidade de ficarmos afastados dos nossos treinos.
Vale a pena nos cercarmos desses cuidados, acreditem.
Obrigado, Dr. Marcos, pela colaboração!
Muito boa a sua iniciativa, Roberto! Parabéns ao Dr. Marcos pelo esclarecimento.
ResponderExcluirCris Fahel
Cris,
ExcluirA idéia é proporcionar informações para que todos possam aprender e praticar com mais segurança.... e viverem felizes assim. :-)
Em um pré atendimento deu FC 65; SatO2 99% e PA 10x7.. Devo me preocupar ?
ResponderExcluirEm um pré atendimento meu FC foi igual a 65 ; SatO2 99% e PA 10x7. Devo me preocupar ? minha PA é sempre 12x8.
ResponderExcluirFlaviano, para sua segurança, faça sempre um acompanhamento com um profissional e que acompanhe você há algum tempo. Podem existir variações normais, mas é importante que um profissional oriente você.
ExcluirAbraço!