Se precisavam de mais um argumento....
Revista O2.
Correr ajuda na prevenção do câncer de mama
Cientistas revelam que correr previne reincidência da doença e fortalece o coração das vítimas
Não é de hoje que estudos demonstram que mulheres fisicamente
ativas têm menores chances de ser vítimas do câncer de mama, o mais mortal dos
tumores malignos entre a população feminina de todo o planeta. Ainda assim, no
Brasil, as taxas de mortalidade por causa da doença continuam nas alturas —
12.500 mortes ao ano, em média, de acordo com o Instituto Nacional de Câncer
(Inca). A novidade é que além de prevenir a doença, os esportes de alta
performance, como a corrida, produzem nas mulheres já curadas do câncer uma
espécie de barreira protetora, que impede a reincidência da doença, além de
atuar a favor da saúde do coração delas. Motivos de sobra para tirar aquele
tênis de corrida do armário.
Bem, pelo menos é o que sugerem os cientistas do Sports
Medicine Center de Florença, da Itália, autores de um estudo apresentado
recentemente no encontro do The American College of Sports Medicine, nos EUA. O
trabalho mapeou por quatro anos a experiência de 30 atletas remadoras e
ex-vítimas do câncer de mama. A expectativa era de que o esporte apresentasse
significativo impacto sobre o desempenho do miocárdio das pacientes. Teoria
comprovada, uma vez que a frequência cardíaca de repouso delas passou a ser
menor após os anos de treinamento. A surpresa ficou por conta da descoberta de
que atividades físicas adequadas, como a corrida e a caminhada rápida, permitem
reduzir em 50% o risco de retorno do câncer de mama.
Segura, coração!
Para entender a importância da pesquisa, basta lembrar que as
pacientes que vencem a batalha contra a doença podem, por vezes, ser submetidas
a medicações vigorosas e técnicas como quimio ou radioterapia, responsáveis por
enfraquecer a máquina do coração. “Daí a importância dos bons resultados desse
estudo, como a melhora do condicionamento cardiorrespiratório por meio da
prática de atividades físicas intensas, como a corrida”, avalia o oncologista
Artur Malzyner, do Hospital Israelita Albert Einstein, além de membro da
European Society for Medical Oncology.
Essa, digamos, parceria entre a atividade física e o coração
funciona da seguinte forma: ao acelerar as passadas na pista, a corredora aumenta
a eficiência do seu músculo cardíaco, permitindo que uma mesma quantidade de
sangue seja bombeada por minuto, mas com menor número de batimentos do coração.
Tem mais, o exercício intenso dá um up no sistema imunológico,
também escalado na luta contra as células cancerígenas.
Corrida com musculação
Especialmente no controle da obesidade versus
diagnóstico de câncer, o esporte de alto rendimento é um grande aliado da
mulher. Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e
do Esporte (SBMEE), Jomar Souza, “o tecido gorduroso funciona como uma usina de
substâncias tóxicas, inclusive em casos de câncer de mama”. Daí a importância
de se manter o corpo magro, sequinho. Atualmente, a comunidade científica já
bate o martelo para a ideia de que obesidade provoca o acúmulo de substâncias
parentes da insulina no organismo, capazes de estimular a multiplicação sem
controle de células malignas.
Além de reduzir o risco de doenças cardiovasculares, a corrida
ajuda as vítimas do câncer a emagrecer e manter o peso, com o consequente
fortalecimento da autoestima — o que afasta o risco de elas caírem em
depressão. De quebra, pode ser útil na recuperação física pós-cirurgia nas
mamas, desde que aliada à musculação e ao pilates. A dobradinha corrida-musculação
favorece o restabelecimento dos movimentos do corpo, dá força aos ombros e
alivia a rigidez característica nas costas. Mas (atenção para o detalhe) só
vale iniciar as séries e repetições sob orientação médica.
Retorno gradual e progressivo
A decisão de correr exige o aval de um oncologista, de um
cirurgião plástico e de um médico do esporte. E não se pode ter pressa, sob o
risco de queda do sistema imunológico. Com a liberação em mãos, de quatro a
seis meses após o tratamento, o retorno deve ser gradual e progressivo. Assim,
os sistemas cardiovascular, respiratório e musculoesquelético têm chance de se
(re)adaptar às exigências do exercício. “O esporte competitivo não pode ser
retomado imediatamente à fase final do tratamento, já que as pacientes ainda
estão imunocomprometidas, e o treinamento intenso pode acentuar essa queda do
sistema imunológico”, alerta Raphael Fraga, cardiologista do Hospital
Samaritano. Além disso, o retorno desorganizado pode causar má cicatrização,
sobrecarga cardiovascular, arritmias, exaustão precoce, distensões musculares e
até fraturas. Já com o organismo preparado para encarar as atividades físicas,
mulheres que sofreram com o câncer de mama podem encarar a corrida com a mesma
energia com a qual enfrentaram o difícil tratamento.
As outras, que não tiveram de lutar essa batalha, fiquem de
olho na prevenção, avancem nos treinos e deixem para trás o risco de fazer
parte das estatísticas de vítimas da doença.
Fontes: Artur Malzyne,
consultor científico da Clínica de Oncologia Médica, médico do Hospital
Israelita Albert Einstein e membro da European Society for Medical Oncology;
Jomar Souza, médico pós-graduado em medicina do sporte pela Universidade
Federal do Rio Grande do Sul e atual presidente da Sociedade Brasileira de Medicina
do Exercício e do Esporte (SBMEE ); e Raphael Fraga, cardiologista do Hospital
Samaritano.
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